quarta-feira, 24 de julho de 2013

Outra Primavera…



Outra Primavera…

Demoramos demasiado tempo a libertarmo-nos
De desilusões e angústias a que nos apegamos.
Pesos que nos puxam para baixo de vez em quando
E nos lembram que ainda lá estão.

A vida é como um rio, cujo caudal é variável,
Uns dias mais cheio, outros mais vazio,
Mas sempre outra água, que não pára de correr.
Assim os dias se sucedem,
Num tempo vertiginosamente sempre novo.

Somos aquela árvore sobre a margem do nosso rio,
A quem a natureza acidentalmente quebrou algumas pernadas,
Que vivem penduradas em nós,
Quase sem vida, mas sem que as queiramos soltar.

O rio enche e o rio vaza, o vento vem e agita-as,
Vacilamos e reajustamos o equilíbrio,
Mas elas permanecem lá agarradas,
Como que a lembrar-nos e a quem nos olha,
Que algo em nós se Partiu.

Mas na natureza nem o bem nem o mal são eternos,
Chega a altura em que o rio cresce e o seu caudal fica tão grande,
Que tudo limpa na sua tumultuosa passagem.

Um dia acordamos, depois de a torrente passar
E descobrimos com surpresa,
Que enquanto nos agarrámos com força para sobreviver,
Os nossos galhos moribundos se soltaram.

Afinal não eram vitais…
Nunca perceberemos porque os segurámos tanto tempo.

Estivemos tão apegados à dor dos nossos ramos partidos,
Que nem reparámos que já passou outra Primavera,
Temos ramos viçosos e fortes
E nem dávamos por eles…

Benvinda Neves

Julho 2013

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