Outra Primavera…
Demoramos demasiado tempo a
libertarmo-nos
De desilusões e angústias a que nos
apegamos.
Pesos que nos puxam para baixo de vez em
quando
E nos lembram que ainda lá estão.
A vida é como um rio, cujo caudal é
variável,
Uns dias mais cheio, outros mais vazio,
Mas sempre outra água, que não pára de
correr.
Assim os dias se sucedem,
Num tempo vertiginosamente sempre novo.
Somos aquela árvore sobre a margem do
nosso rio,
A quem a natureza acidentalmente quebrou
algumas pernadas,
Que vivem penduradas em nós,
Quase sem vida, mas sem que as queiramos soltar.
O rio enche e o rio vaza, o vento vem e
agita-as,
Vacilamos e reajustamos o equilíbrio,
Mas elas permanecem lá agarradas,
Como que a lembrar-nos e a quem nos olha,
Que algo em nós se Partiu.
Mas na natureza nem o bem nem o mal são
eternos,
Chega a altura em que o rio cresce e o
seu caudal fica tão grande,
Que tudo limpa na sua tumultuosa passagem.
Um dia acordamos, depois de a torrente
passar
E descobrimos com surpresa,
Que enquanto nos agarrámos com força para
sobreviver,
Os nossos galhos moribundos se soltaram.
Afinal não eram vitais…
Nunca perceberemos porque os segurámos
tanto tempo.
Estivemos tão apegados à dor dos nossos
ramos partidos,
Que nem reparámos que já passou outra Primavera,
Temos ramos viçosos e fortes
E nem dávamos por eles…
Benvinda Neves
Julho 2013
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