A idade da verdade…
“Mãe….Mãeeee…quelo
tê uma baliga igual aquela senhola”...
Ouvi
outro dia enquanto saía da água e passava junto a uma família.
Será que ouvi bem? O que levará uma menina de
três ou quatro anos dizer à mãe que quer ter uma barriga igual à daquela
senhora?!
Deito-me
na toalha enquanto ouvia aquela voz de querubim repetir incessantemente a
frase, na sua vozinha cheia de mimo.
Olho, conforme
olham outros olhos ali ao redor - e vejo a mãe abanar o braço da criança
enquanto a mandava calar com um “chiu, filha cala-te” – e eis que reparo que a
barriga cobiçada era a minha…
Deus,
uma das coisas que menos desejo é que reparem na barriga, que podia ser menos
protuberante, mas que também não tem um tamanho que possa ser motivo de cobiça
por uma criança mais ambiciosa.
Aquilo
intrigou-me e intrigou também a mãe da petiza, que não a conseguindo silenciar
acabou por perguntar “ oh filhinha, e porque queres tu uma barriga igual à
daquela senhora?”, “porque ela não tem umbigo e as outras barrigas têm”.
“Claro
que a senhora tem umbigo, está é metido para dentro” – e lá dei eu um jeitinho
de lado para a menina confirmar e acabar por sossegar.
Faz-me
lembrar um dia em que cheirou muito mal no autocarro e que por descrição toda a
gente se manteve calada, mas quando cheirou mal pela segunda vez, uma avó que
levava a neta ao colo, também uma menina com cerca de quatro anos disse em voz
muito alta “ que horror, que cheiro horrível, esta gente é muito porca”, ao que
se ouve em seguida uma vozinha de anjo “fui eu avó, doí-me a barriga” –
gargalhada geral entre a atrapalhação da senhora que não sabia se repreendia a
garota ou se ria também.
Ou ainda
uma história que me foi contada por uma amiga tendo como protagonista a filha
que teria também esta idade. Costumava a criança ir para a cama dos pais,
quando o pai não estava em casa, porque o pai normalmente só vinha aos
fins-de-semana e eis que a pequerrucha um dia sentada no colo da mãe, também no
autocarro a caminho de casa, pergunta em voz alta “mãe, mãe… com quem vais
dormir esta noite?”
São
assim as crianças, em certas idades, simples nos seus desejos
e nas suas
verdades.
Benvinda Neves
Setembro 2013
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