O que é
um elevador?
Um elevador é um compartimento minúsculo, metálico,
com cerca de um metro quadrado, que possui personalidade própria, acutilante
espirito crítico e que tem também o "grande poder" de me tirar do
estado de transe logo pela manhã.
Felizmente (em alguns dias) que este espaço
pequenino, onde entro maquinalmente, possui um espelho que fala e se ri, nas
manhãs em que o despertador e o banho não foram suficientemente fortes para me
trazer de volta à "selva quotidiana".
Como um autómato, acendo a luz da escada, carrego e
botão do elevador e enquanto ele chega, rodo a chave nas suas quatro voltas -
isto é o "ram-ram" final, da rotina diária da primeira hora que
inicia os meus dias.
Mas há dias "especiais" como o de
hoje que só acordo "mesmo", quando aquele espelho grande, mas nem
sempre suficiente, me olha e se ri na minha cara, enquanto me diz entre
gargalhadas:
" Que é
isso?! Hoje vais assim para o trabalho?!"
Lá está a mola colorida no topo da cabeça, que
deveria ter ficado na gaveta das escovas, pois o seu reinado acaba quando dou
por terminado o penteado. Claro que não acabei de me pentear...
Como não acabei no outro dia de me maquilhar...e um
olho parecia maior que outro.
Ou como aquele dia em que este
"bendito-espelho" me disse:
"Hoje estás mais baixinha"…
"Opssss…
não de troquei os chinelos de casa pelos sapatos... Volta a subir.
Esqueceram-se de fazer este “magnifico” do tamanho
da parede e já aconteceu que num dos dias em que não fez comentários passei pela
triste figura de me sentir incomodada por olhares alheios.
- Braguilha - confirmada, está fechada...
- Peito - confirmado, todos os botões da camisa
estão fechados...
- Pés - está tudo certo, troquei para os sapatos...
Mas porque "raio" na paragem tudo me olha
pelo cantinho do olho?!
Belo, mesmo na hora em que chega o autocarro reparo
que vou subir a segurar religiosamente, o saco-do-lixo meio transparente. A
procura do contentor valeu a espera de mais 15 ou 20 minutos até passar o
próximo - uma forma de despertar contra-natura, que me deixa neura.
A culpa?
Minha ou dos meus mais de cinquenta anos, que não
concluem nenhuma tarefa sem a interromper uma dúzia de vezes?
Claro que não.
A culpa é da criatura que colocou aquele espelho no
elevador e o fez grande, mas não o suficiente, pois dá pela minha cintura, quando
me devia abarcar até aos pés.
Será que não percebem que o elevador é aquele ser
que nos “espiolha” com seu espirito-critico e nos diz como estamos antes que o
mundo nos veja?
Benvinda Neves
Setembro 2013
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