A
balança é um objecto de tortura…
Vira para a direita, vira para a esquerda,
mira à frente, mira atrás…
Assim estava perdida nos meus pensamentos, a
experimentar um vestido, quando ouvi, gritado do provador ao lado:
“Ai
que raiva me dão estes espelhos, como os detesto…se pudesse partia-os todos…aiiiiiiiiiiii….”
Não faço ideia do aspecto da dona de tal “protesto”,
imagino que estaria a experimentar alguma peça pela qual se tinha apaixonado
sem que coubesse nela – como a compreendo e me sinto solidária.
A balança ultimamente é um objecto de tortura
– uso e abuso dela, como uma viciada em masoquismo. Todos os dias prometo a mim
mesma que amanhã a vou ignorar. Mas … lá estou todas as manhãs em cima dela,
como se precisasse de me irritar assim que acordo.
É
horrível – ela está ali no canto do quarto há vários anos e pouco lhe ligava, mas
ultimamente subir para cima dela passou a fazer parte do meu quotidiano.
Aos 35 anos resolvi de um dia para o outro que
ia deixar de fumar e deixei - assim como deixei de ser magra. Substitui o
prazer de fumar pelo da “boa mesa”. Foi assim que ganhei esta “robustez
saudável”.
Nunca me preocupei demasiado com os quilitos
a mais, mas tentei sempre não ter variações de peso. Ultimamente esta é uma
tarefa que se está a tornar difícil – razão pela qual a balança se tornou uma obsessão.
Não tive aqueles calores insuportáveis e
mal-estar de que se queixam a maioria das mulheres quando chega a menopausa.
Tão pouco aquela “pancada de perda que bate” em algumas porque deixaram de ser
férteis. Já ouvi uma amiga dizer-me que se sente menos mulher por isso –
incompreensível (!!!!!!!!!).
Para mim, pelo contrário, é uma maravilha não
ter que “mudar fraldas” todos os meses, não me preocupar se vai acontecer em
datas que considero importantes – não me estraga dias de férias ou momentos de
festejar.
Ter período-menstrual é um “mal necessário” –
porque de resto é uma “seca”, que só trás desconforto, mal-estar físico e
emocional.
Mas não há bela sem “senão...” e esta luta
com o peso vem precisamente desse novo estado de graça – nada que os médicos
não tenham avisado.
Até há
pouco tempo atrás bastava deixar de comer guloseimas durante uma ou duas semanas
e era suficiente para baixar 2 quilos, agora nem umas miseras gramas.
É mesmo uma dificuldade Grande…
Nunca me tinha lembrado de protestar contra o
espelho, tão pouco ameaça-lo, mas apesar da vontade de rir que tive ao ouvir
aquele grito de revolta, a verdade é que me sinto solidária:
“Malditos espelhos….”
Benvinda Neves
Junho 2014
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