A preparar o “adeus” de uma grande
amiga…
Desgastamo-nos constantemente com
assuntos pequenos, mesquinhices que fazem parte do nosso dia-a-dia, a que damos
desnecessária importância.Arreliamo-nos vezes sem conta por coisas pequeninas,
que não significam mesmo nada.
Na hora em que o nosso fim está
próximo, os nossos olhos são doces e cheios de compaixão. Transmitem por nós a
força com que queremos agarrar-nos à vida.
A nossa boca tem poucas palavras, mas
escolhemos aquelas que queremos eternizar na mente dos que amamos.
As nossas mãos estendem-se para uma
mão amiga, que lhe dê algum do conforto que não obtemos da medicina e nos faça
sentir que não estamos sós nas horas mais terríveis da nossa vida.
Seguro uma mão esquelética, que se
agarra à minha, com a força que já não tem o restante corpo que se contrai constantemente
entre espasmos de dor.
Afago os seus dedos e pouso beijos
suaves na sua testa, enquanto a sua boca tenta sorrir e os seus olhos se enchem
de lágrimas e me olham com súplica e ternura.
É a minha grande amiga Teresinha que
se despede dos últimos dias que a vida lhe reserva e não tem sido nada fácil o
tempo presente.
Guardarei sempre o sorriso que
interrompeu as dores e as lágrimas, para me dizer: “agradeço a Deus que não me
levou sem me despedir de ti. Tive tanto medo de morrer enquanto estavas de
férias. Estou feliz porque pude voltar a ver-te e porque podemos despedir-nos”.
Há palavras que nos cortam o coração,
pela verdade que encerram, pelo amor com que nascem e pelo adeus definitivo que
representam.
Têm sido dias de muita dor e
incerteza constante.
Bem sei que a morte é uma certeza nas nossas
vidas e que a doença deveria ser uma forma de nos sentirmos preparados para
ela.
Mas nunca estaremos preparados para esse
momento, nem para todo o sofrimento que acompanha um doente de cancro em fase
terminal.
Ninguém deveria ter que sofrer tanto para morrer.
Tenho o coração constrangido perante tanta dor e agonia.
Tenho o coração constrangido perante tanta dor e agonia.
Infelizmente já presenciei estes
momentos antes e é um sentimento de enorme impotência, uma angústia apertada e
uma grande revolta que toma conta de nós, pois sabemos que a única coisa que
podemos dar a um amigo que se despede, é a certeza de que o amaremos até ao
fim e que não o deixaremos só no seu último percurso.
Todos os dias guardo uns momentos
para estar de mãos dadas com a minha querida, com beijos de ternura e palavras
de conforto, pois quero que parta com a certeza que a amarei enquanto tiver
memória.
Um dia, que adivinho breve, as nossas
mãos vão separar-se.
Ficará para sempre a nossa grande amizade.
Benvinda Neves
Agosto 2013
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