terça-feira, 14 de maio de 2013

Todos gostaríamos de ser invisíveis...



Todos gostaríamos de ser invisíveis...

(De vez em quando).

Enquanto esperava na estação do metro,
observando em redor, reparei num jovem encostado a uma parede,
num lugar menos iluminado.

Estou certa que pouca gente notou que ali estava.
Mas quando o metro se aproximou e se deslocou para a zona de embarque,
vi que algumas cabeças se viraram na sua direcção
e vários olhos se detiveram em rápida observação.

Chamava a atenção pela postura e forma de vestir.
A temperatura estava acima dos vinte graus,mas ele trazia um casaco grande,
com capuz que cobria a cabeça e grande parte do rosto.

Embora não lhe fosse visível qualquer defeito físico,
caminhou como quem faz o esforço de se arrastar para dentro da carruagem,
com o olhar sempre caído no chão.
Fiquei a vê-lo, até desaparecer de vista numa carruagem lá mais à frente e não pensei mais no assunto até chegar a casa e me encontrar só.

O mundo distrai-nos pela quantidade de coisas que observamos a toda a hora e muitas vezes deixamos de reflectir sobre tudo o que vemos.
Mas quando estamos a sós connosco, acabam por vir à memória imagens que por alguma razão retivemos e acontece-me ficar como hoje a pensar numa razão para alguém querer ser tão diferente e incomum, embora saiba que na juventude somos irreverentes.

Ocorre-me que todos gostaríamos de ser invisíveis de vez em quando.
São muitas as formas que encontramos para disfarçar a nossa timidez,
ou vencer os nossos medos e angustias.

Já todos nos sentimos constrangidos em alguma ocasião e sabemos que ser jovem também é sinonimo de incertezas e vendaval de emoções.

Muitas foram as vezes que como este jovem, ao longo da vida, coloquei “ capuz” a cobrir-me os medos, na esperança de que o mundo não reparasse em mim e pudesse errar sem ter todos os olhos a avaliar-me.

Muitas foram também as vezes em que me senti só e me arrastei para missões que me pareciam impossíveis, por parecerem muito maiores que eu, perante um mundo que achei egoísta, cego e injusto.

Contudo, nem sempre a forma que encontramos para passar despercebidos
nos deixa invisíveis.

Mas hoje tenho a certeza que sempre que a minha “invisibilidade” me expôs, fiquei muito mais forte.

Acredito que um dia este jovem sentirá o mesmo - uma força enorme, que o fará sorrir de tudo o fez crescer.

Terá uma paixão imensa por um mundo impassível
que o desafia e aprenderá a amá-lo,
por toda a sua beleza, apesar dos seus defeitos.

Benvinda Neves
Maio 2013







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