Todos gostaríamos de ser invisíveis...
(De vez em quando).
Enquanto esperava na estação do metro,
observando em
redor, reparei num jovem encostado a uma parede,
num lugar menos iluminado.
Estou certa que pouca gente notou que ali estava.
Mas
quando o metro se aproximou e se deslocou para a zona de embarque,
vi que
algumas cabeças se viraram na sua direcção
e vários olhos se detiveram em
rápida observação.
Chamava a atenção pela postura e forma de vestir.
A
temperatura estava acima dos vinte graus,mas ele trazia um casaco grande,
com
capuz que cobria a cabeça e grande parte do rosto.
Embora não lhe fosse visível qualquer defeito físico,
caminhou como quem faz o esforço de se arrastar para dentro da carruagem,
com o olhar sempre caído no chão.
Fiquei a vê-lo, até desaparecer de vista
numa carruagem lá mais à frente e não pensei mais no assunto até chegar a casa
e me encontrar só.
O mundo distrai-nos pela quantidade de coisas que
observamos a toda a hora e muitas vezes deixamos de reflectir sobre tudo o que
vemos.
Mas quando estamos a sós connosco, acabam por vir à
memória imagens que por alguma razão retivemos e acontece-me ficar como hoje a
pensar numa razão para alguém querer ser tão diferente e incomum, embora saiba
que na juventude somos irreverentes.
Ocorre-me que todos gostaríamos de ser invisíveis de vez
em quando.
São muitas as formas que encontramos para disfarçar a
nossa timidez,
ou vencer os nossos medos e angustias.
Já todos nos sentimos constrangidos em alguma
ocasião e sabemos que ser jovem também é sinonimo de incertezas e vendaval de
emoções.
Muitas foram as vezes que como este jovem, ao longo da
vida, coloquei “ capuz” a cobrir-me os medos, na esperança de que o mundo
não reparasse em mim e pudesse errar sem ter todos os olhos a avaliar-me.
Muitas foram também as vezes em que me senti só e me
arrastei para missões que me pareciam impossíveis, por parecerem muito maiores
que eu, perante um mundo que achei egoísta, cego e injusto.
Contudo, nem sempre a forma que encontramos para passar
despercebidos
nos deixa invisíveis.
Mas hoje tenho a certeza que sempre que a minha
“invisibilidade” me expôs, fiquei muito mais forte.
Acredito que um dia este jovem sentirá o mesmo - uma
força enorme, que o fará sorrir de tudo o fez crescer.
Terá uma paixão imensa por um mundo impassível
que o
desafia e aprenderá a amá-lo,
por toda a sua beleza, apesar dos seus defeitos.
Benvinda Neves
Maio 2013
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