Acabei de assistir ao voo do único falcãozinho
que ainda estava na floreira do lado, hoje de manhã.
Era a mais pequena das quatro crias
e algumas vezes vi os irmãos a debicarem-lhe as penas
e a ajuda-lo a ver-se livre da penugem.
Os outros tinham partido e ele ali esteve toda a manhã
a ameaçar pequenos voos entre os ramos da sardinheira
e o murete da floreira, sem se atrever a voar.
Fui espreitando amiudamente
e vi-o naquele vai, não vai, durante seis horas.
Abria muito as asas - para logo desistir
e se abrigar no parapeito da janela a olhar para mim.
Há pouco vi chegar os dois adultos
que fizeram vários voos em círculos,
entre os prédios e o pinhal.
Um deles (creio que a mãe) pousou no pingadouro
da varanda de cima e piou incentivando a cria,
que finalmente levantou voo,
até uns arbustos baixos junto ao prédio.
A ave adulta esperou pacientemente no topo de um pinheiro
e depois com um voo hesitante vi o corpo pequenino
a esvoaçar ... para cima, para baixo...
De seguida, perdi os dois no horizonte,
em direcção ao rio, de onde costumo ver chegar
os adultos com os sapos e as lagartixas
com que alimentaram os filhotes.
Tantas vezes ficamos para trás - porque nos deixamos
dominar pelos nossos medos.
Tantas vezes podíamos ter horizontes grandes
e ficamos no nosso quintal,
porque não nos atrevemos a voar...
Tantas vezes precisamos que alguém
nos incentive e nos diga
"tu és capaz"...
Maravilhosa lição de vida
que foi ter tido o privilégio de os ver crescer ...
Benvinda Neves
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