A importância do toque…
É quase impossível estar na mesma sala em que
outras pessoas conversam e não se ouvir (ainda que sejam desconhecidos).
Podemos depois prestar ou não atenção, dependendo do tema e dos intervenientes.
Outro dia escutei uma troca de impressões
entre uma pessoa ligada às artes e outra da área da saúde e porque era
interessante o que conversavam despertou o meu interesse.
Era culta e motivante a senhora que falava com
paixão sobre cultura, filmes, pintura e escultura. Fiquei presa, tal como o seu
interlocutor. Tudo o que dizia era confirmado por toda a postura física,
palavras quase cantadas, gestos e sorrisos – uma pessoa realizada
profissionalmente, não restavam dúvidas.
Foi precisamente isso que ele observou:
“ a senhora nota-se que gosta daquilo que faz”.
“ a senhora nota-se que gosta daquilo que faz”.
“Oh sim, adoro e ao contrário da sua profissão
a minha não é nada monótona e repetitiva”.
Fiquei a olhar para eles, pois tenho opinião
contrária à dela – percebi pela expressão que ele ficou desiludido com a
observação e contrapôs:
“Também
adoro o que faço, não trocava por nada e não acho nada monótono e repetitivo -
pelo contrário é muito gratificante”. Enquanto argumentava olhava-me nos olhos
(pois os meus devem ter falado) com um sorriso, como quem me convida a
participar.
“Também discordo da senhora. Ainda a semana
passada comentava que além de terapeutas físicos, eles são também terapeutas
psicológicos. Ouvem e aconselham doentes com todo o tipo de problemas. Não acho
nada uma profissão monótona, mas desafiante. Considero ainda que mentalmente
são pessoas muito fortes, que precisam de grande preparação, para não
armazenarem toda a carga negativa transmitida pelas queixas constantes de quem
vive momentos maus da vida e lamenta o sofrimento. Além de serem os únicos
ouvintes de muita gente que aqui vem e vive só”- comentei.
“É exactamente como diz - é precisamente o que
sinto. Sabe é que muitas pessoas não têm consciência da importância do contacto
físico. Mas o facto de tocarmos nas pessoas leva a um relacionamento que
desenvolve como que uma certa intimidade que as faz desabafar e conversar
sobre tudo o que as aflige. Precisamos sentir que somos aceites por aquela
pessoa e que há cooperação, para que resulte. Já tem acontecido
termos que trocar entre nós, por sentirmos que o doente não está à vontade”.
Vim para casa e dei comigo a pensar nestas
importantes palavras – que fazem com que admire ainda mais uma pessoa que
considero excelente profissional.
A
importância do nosso toque. Raramente se tem
consciência que o facto de tocarmos em alguém quebra barreiras e nos aproxima.
As nossas mãos têm o poder de dar conforto,
sem que sejam necessárias palavras.
Têm a magia de abrir caminho para o coração
dos outros.
É
verdade que quando a pele é tocada por outra sentimos reacção – transmite-nos
sentimentos.
Todos deveríamos ter uma mão na nossa, no
momento da partida, para sentirmos que fomos amados até ao fim.
Quando tocamos em alguém transmitimos-lhe
parte da nossa energia e manifestamos o nosso sentir – por isso nos arrepiamos
e excitamos quando apaixonados ou nos encolhemos e repudiamos quando não é
suposto tocarem-nos.
A maneira mais encantadora de tocar em alguém
- é através de beijos e abraços.
Nunca esqueceremos quem nos
abraçou e beijou com doçura e desejo – é a forma mais linda de deixarmos parte
de nós com os outros.
Benvinda Neves
Março 2014
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