(foto de 1991 - as "botas" vermelhas)
“Sapatos” são uma das minhas perdições…
Hoje
quebrei a regra do bom senso e não cumpri um conselho médico,
tão pouco
a lógica que deve ser usada por pessoas com problemas graves de postura.
Aqui
estou em cima de uns saltinhos, que embora não sendo muito altos, já se
assemelham "muito" com calçado de mulher.
Comprei
umas botas (sempre adorei botas) e sinto-me uma "senhora"- um
bocadinho exagerada esta afirmação, mas quem se lembra dos meus velhos tempos
sabe o que quero dizer.
Durante
muitos anos, acreditei que o tipo de calçado que se escolhe, está bastante
associada à personalidade da pessoa.
Continuo
a pensar que tem lógica esta minha associação - o calçado diz muito mais sobre
um individuo que a restante indumentária.
Não estou
sempre a reparar em "pés" - mas eles são conclusivos.
Há-os de
todo o tipo "cuidados", "descuidados", "elegantes",
"bimbos", "desportivos", "clássicos",
"extravagantes", "tímidos", "vaidosos," “cansados",
"doentes", etc....O que é certo é que “pés” têm personalidade.
Mas como
diz o ditado para tudo na vida, existem excepções. E também no caso do calçado,
tenho que admitir que em alguns casos, ou pelo menos em algumas alturas das
nossas vidas somos obrigados a fazer opções que não correspondem ao nosso gosto
pessoal.
Tem sido
o meu caso nos últimos anos, pois os problemas graves resultantes do meu
acidente, obrigaram-me a reformular todo o calçado e a ficar condicionada a
sapato de senhora "tipo masculino". Muito mais confortáveis, diga-se,
mas que influenciam em muito aquilo que vou vestir.
Gosto de usar
de vez em quando vestidos justos, curtos e de renda - imaginem se os vestiria
com sapato raso, largo e de atacador - pareceria que tinha esquecido o resto do
fato de mergulho e que trazia só as barbatanas.
Em
algumas ocasiões que vêm à conversa recordações de tempos idos, surgem várias
vezes comentários de colegas como:
“E aquele
teu andar bamboleante em cima de saltos de dois palmos, finíssimos?” Ou “quando
te conheci tinhas um andar que todos olhávamos” Ou ainda “ não eras nada como
és hoje, parecias uma “vaidosona”, sempre muito bem calçada”.
Poderiam
parecer-me depreciativos estes comentários, mas não. Só provam que o que
calçamos é uma marca da nossa personalidade e que os outros mesmo
inconscientemente formam opinião sobre a nossa pessoa através dos nossos pés.
Quase todas as
meninas brincaram com os sapatos das mães ou das irmãs mais velhas – não fui
excepção, a minha “paixão” por sapatos acordou cedo.
Desejava crescer
para poder usar sapato alto, fino e de pele – era fascinada pelos sapatos de
pele de cobra que tanto se usaram na minha juventude. Claro que os tive, em
preto, em cinzento e em castanho, com ou sem aplicações – todos lindíssimos e
elegantes.
O sapato de
salto alto que representou uma proibição até à minha idade adulta - tornou-se
um símbolo de conquista e glória quando fiz os 18 anos e comecei a receber
remuneração pelo meu trabalho.
Não sou de
muitas extravagâncias, mas confesso que “sapatos” são uma das minhas perdições
(com excepção destes últimos anos), desde que sou independente – sempre tive
muito mais que os que preciso. Sapatos, botas e malas a condizer.
Alguns são
recordados quase como ícones de uma época, como as botas até aos joelhos, em
camurça vermelha – uma altura em que me sentia renascida e feliz. Ou aqueles
sapatos de verniz preto com salto de estilete, que calçava nos dias em que me
sentia tão “segura” que acreditava que tinha poder para mudar o mundo.
Demorei dois
anos para me mentalizar que os ia dar (“quase” todos), porque não os poderia usar
mais – 13 pares de uma só vez, alguns tinha calçado duas ou três vezes. Os últimos
só foram dados o ano passado - sete anos sem uso.
Sou de alimentar sonhos e acalentei que
aqueles talvez conseguissem ser usados muito esporadicamente, em ocasiões de
festa.
Esta é uma nova
fase – saltinho “médio”.
Pode parecer sem
importância mas faz toda a diferença, na minha aparência e vaidade pessoal – um
conforto grande para o meu ego. Sim, porque uma coisa é a gente não usar porque
não quer, muito diferente é sabermos que não usamos porque não podemos.
Lentamente retorna
o meu dia-a-dia e festejo “para mim mesma” cada pequena superação –
despercebidas para quem me rodeia.
É difícil explicar o que se sente quando
voltamos a conseguir fazer coisas tão simples do dia-a-dia, como calçarmo-nos,
vestirmo-nos ou lavarmo-nos sozinhos.
Voltar a usar um
bocadinho mais de salto é só um capricho, comparado com tudo o que ficou para
trás.
Mas um capricho
que me deixa muito feliz.
(confidencio que
começou a crescer a nova colecção de sapatos com saltinho médio….é que apesar
do interregno, não morreu o meu fetiche).
Benvinda Neves
Fevereiro 2014
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