"A chover e a fazer sol... e as bruxas a comer pão mole..."
assim cantarolávamos em garotos
e assim tem estado a tarde.
Da nossa "prisão domiciliaria,"
olhamos pela janela
e vamos comentando onde estaríamos
com um dia tão bonito...
se não estivéssemos condicionados.
Tudo o que não podemos mudar,
aceitamos e adaptamo-nos,
porque essa é a forma de usufruir do que temos.
Olhar tantas vezes pela janela,
trás-me à memória os quase dois anos
que estive confinada a casa,
pelas consequências graves do acidente rodoviário,
que me deixou praticamente sem andar.
Esta janela...
foi em tantos dias a minha "sanidade mental"
e fez a diferença entre a loucura das dores
e a loucura dos dias de solidão que se repetiam.
Não que os amigos não me visitassem,
mas o trabalho e as próprias vidas,
deixam-nos menos tempo que o que gostaríamos
e quem não consegue acompanhar
o ritmo do dia a dia - acaba por ficar à margem.
É isso que acontece com os nossos velhos,
os nossos doentes
e todos os nossos "excluídos"
que por alguma razão não estão integrados
na engrenagem social normal.
E é isso que me leva a ir ao hospital
ou à clínica, sempre que um amigo está doente.
Sei bem a importância que faz ter uma visita.
Vejo nas redes sociais os desabafos
de tantos que estão a entrar em desespero
(e compreendo, pois privamo-nos da liberdade)
e a minha mensagem de hoje
é para que pensemos naqueles
para quem não é assim tão passageiro,
mas uma realidade de ano após ano.
A solidão e o abandono,
é morrer um bocadinho cada dia...
Aprendamos com esta má experiência
e sejamos mais piedosos
com todos os que sabemos vivem sós
e condicionados por alguma razão.
Esta catástrofe mundial,
faz-nos parar e pensar.
Muitas vezes temos dificuldade
em sentir a dor alheia.
Benvinda Neves
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