Moram comigo a Solidão
e a Alegria…
Coabitam em comunhão,
Numa união nem sempre pacífica.
Numa união nem sempre pacífica.
A Solidão é calma, tímida
E tão egoísta quanto um amante doentiamente ciumento.
Não me quer,
E tão egoísta quanto um amante doentiamente ciumento.
Não me quer,
Não por ser eu, mas
apenas porque não quer ninguém,
No entanto não me liberta.
Enreda-me em fios minuciosamente
esculpidos
Em momentos de tristeza.
Envolve-me cuidadosamente,
prendendo-me sempre que pode.
Às vezes fico de tal forma presa,
Que me esqueço de libertar a Alegria.
Que me esqueço de libertar a Alegria.
São muitas as vezes em me sinto bem
nas redes da Solidão,
Me deixo absorver pelos seus
silêncios
E até banhar em suas lágrimas.
E até banhar em suas lágrimas.
A Solidão leva-me ao mais fundo do
meu ser
E revela-me quem sou.
É também ela que me despe
E tira as máscaras dizendo que sou pequena e frágil.
E tira as máscaras dizendo que sou pequena e frágil.
Quando me entrego totalmente a ela,
não sou feliz
Mas às vezes não sei fugir-lhe.
Felizmente a Alegria também mora
comigo
E aprendeu a libertar-se sozinha,
Quando me esqueço de o fazer.
Quando me esqueço de o fazer.
Extrovertida, endiabrada, teimosa,
meio tonta,
Não suporta não ser lembrada
E solta-se com mais vida que a que tinha quando a esqueci.
E solta-se com mais vida que a que tinha quando a esqueci.
Aparece em todo o lado,
Nos sorrisos, nos olhos, nos gestos,
nos cheiros nas cores,
No céu, no vento, na terra, no mar.
Consigo vê-la em todos os lugares.
A Alegria é toda vida.
Contagiante, persistente,
Não desiste enquanto não me arrasta.
Não desiste enquanto não me arrasta.
Leva-me consigo a maior parte das
vezes,
Pois detesta andar sozinha.
Pois detesta andar sozinha.
É também a Alegria que me apresenta
ao mundo.
Sorridente, forte e decidida,
Faz-me acreditar que assim sou,
Faz-me acreditar que assim sou,
Sem me lembrar que é ela que me
envolve
E despreocupada se mostra.
E despreocupada se mostra.
A Alegria é dominante,
Estonteante como a paixão
E arrebatadora como o desejo.
E arrebatadora como o desejo.
Moram comigo a Solidão e a Alegria…
Mas a Alegria é a dona da minha casa.
Benvinda Neves
Outubro 2012
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