Ontem passei por uma experiência terrível,
daquelas que pensamos que só acontecem aos outros.
Fomos fazer um passeio, como tantas vezes, na praia do Guincho.
Queria assistir ao pôr do sol, mas ao olhar o céu,
percebemos que as nuvens iriam cobrir o sol antes de tempo
e comentamos que o mar estava forte, com ondas encadeadas.
Por o mar estar bravo, percorremos a praia cá mais acima,
quase perto da rede que a separa das dunas.
Atravessávamos o carreiro onde a ribeira desagua,
no local mais alto, onde não havia água, para não molharmos os pés,
quando reparei nuns reflexos bonitos sobre a areia.
Voltei-me para os registar no telemóvel,
quando uma onda com uma força avassaladora me envolveu,
tentei correr, mas a perna com paraparesia e a areia não permitiram,
caí e fui enrolada, levada aos trambolhões na direção do mar.
Tentava levantar-me mas a água fazia remoinho com a areia
e o peso das roupas e a mala cheias de água e areia, faziam-me cair de novo.
Procurei o meu irmão para pedir ajuda,
mas ele estava a socorrer uma senhora que também tinha sido arrastada
e nem se tinha apercebido que eu tinha sido atingida.
Valeu-me um jovem corajoso, que já tinha visto a passear um cãozinho,
que aproveitou o recuo da onda, para me auxiliar a levantar.
A imprudência...
poderia ter-me custado a vida e não apenas a perda do telemóvel,
que o jovem também recuperou, mas que ficou inoperacional.
Ouvi hoje que quatro turistas morreram ontem em Tenerife,
por desrespeitarem as normas e terem sido arrastados pelo mar.
Ontem não havia alerta costeiro aqui na zona,
pois quando há tenho por habito cumprir.
Não me passou pela cabeça que aquele mar que vi lá ao fundo na praia,
em segundos invadisse todo o areal.
Algumas nodoas negras, o corpo dorido e os pesadelos de noite,
mantêm viva a má experiencia de ontem.
Não era "a minha hora",
serve para não esquecer que a imprudência pode ser fatal.
Mil vezes obrigada ao jovem destemido que me auxiliou
e ao meu irmão que ajudou também a socorrer-me.
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