"Foi a despedida do nosso querido mano Zé Maria"...

Quando chegámos chovia, corria uma ventania fria,

como se o Verão nos tivesse abandonado.

Quando saímos, uma hora depois, o céu estava azul com um sol radioso,

como uma mensagem de luz e paz.

"Foi a despedida 

do nosso querido mano Zé Maria"...

e disse à sobrinha e à cunhada do mano,

 que ele nos falava através do tempo,

triste no dizer do adeus

 e depois cheio de luz, a dizer para vivermos e sermos felizes.

Os últimos anos foram de solidão e sofrimento,

com uma lucidez maior que a minha,

mas na completa escuridão e paralisado.

Queremos acreditar que Deus sabe sempre a razão,

mas como humanos interrogamo-nos vezes sem conta do porquê.

Muitas vezes me disse um parceiro de quarto:

"Benvinda, ele quando você chega está sempre a sorrir,

mas apanho-o muitas vezes a chorar".

Também vi algumas vezes uma lágrima teimosa,

que ele me dizia ser provocada pelo gel de banho da manhã

(quando as minhas visitas eram ao fim do dia),

para não admitir que estava triste.

Foram anos muito difíceis, 

capazes de roubar a sanidade mental a qualquer um de nós, 

mas não ao nosso querido Zé,

que nunca desistiu, nem perdeu a esperança de voltar a andar.

Mana, vê aí no google o que quer dizer a palavra "x",

que ouvi hoje num debate na TV.

Eram muitas vezes motivo de conversa os debates que ouvia

e tinha curiosidade em saber a minha opinião e partilhar a dele.

Dois dias antes de morrer falámos mais de duas horas,

sobre a infância, as patifarias que fazíamos e os ralhetes da mãe.

Tantas memórias juntos - só não era um Neves de nome,

mas era um Neves de coração e como se diz, 

os irmãos são sempre os nossos primeiros amigos,

aqueles que vivem na pele o mesmo que nós.

Zé querido, ontem era dia de te visitar,

instituímos dias cá em casa, para teres sempre visitas

e não ficares na expetativa se íamos ou não,

quando passei à porta da residência, 

fiquei com um nó no coração e os olhos rasos.

Sei que a morte faz parte da vida

e racionalmente só o meu egoísmo me impediria 

de ver que a morte libertou o teu corpo da agonia.

A tua vida foi uma dadiva a tantos que de ti precisaram.

Se tivéssemos que te descrever numa palavra 

seria "generoso".

Aqui fica uma pequenina homenagem 

a um irmão que amámos 

e que viverá enquanto vivermos, 

nas nossas memórias, no nosso coração.

Que Deus te receba em paz, querido Zé.

Benvinda Neves