transpor a linha da razão, para não enlouquecermos.
"Mana, liga aí para o meu filho".
"Liga tu mano, tens o comando por voz, podes fazer a ligação.
Bem sabes que ele nunca atende, mas tenta".
"Estou filho - é para te dizer que tenho muitas saudades tuas,
que não compreendo porque não me visitas
e que as saudades são muitas.
Hummm...sim...sim... estás a trabalhar.
Como estão as meninas? Tens guarda partilhada?
Ok, é só curiosidade, bem sei que isso é pessoal
e não tens que me dizer.
Sim... sim...filho, está bem, vai lá trabalhar"...
Talvez uns dez minutos depois:
"Zé, falaste, falaste, mas nunca ouvi a voz do teu filho"
"Pois não, porque tenho auricular".
"Mano, o auricular está aqui na gaveta".
"Não importa se ouviste ou não a voz do meu filho,
importa que eu quis ouvi-la e ouvi".
Esta frase deixou rolar uma lágrima dos olhos estáticos
que desta vez estavam bem abertos, embora sem ver.
"Tens razão mano. Não importa nada se ouço ou não,
o importante é que tu o ouças se o desejas.
Triste a incapacidade física que roubou a mobilidade e a visão
e mantem a pessoa prisioneira ano após ano.
A solidão e a saudade juntam-se à tristeza
e é preciso de vez em quando
"mascarar a realidade", para não morrer de dor.
Tantas vezes o sonho nos salva da loucura...
Benvinda Neves
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