Hoje o passeio foi por Belém e pela primeira vez
ao passar junto ao Memorial dedicado aos soldados do Ultramar, entrei na
"Capela Memorial
aos Combatentes do Ultramar"...
Impossível não nos sensibilizarmos com a quantidade de nomes
inscritos nas paredes que rodeiam a chama permanentemente acesa.
Lá dentro, numa capela despida, um Cristo mutilado encima o altar,
uma rampa conduz-nos a um túnel que nos leva a uma pequena sala
onde uma urna é a memória de todos os que pereceram.
Uma voz lembra nome a nome todos os
que ficaram registados como tendo regressado num caixão.
Numa das paredes um triste e real poema que transcrevo:
"Regresso:
Está um vapor acostado ao cais
Que suporta a dor de mulher e pais!
Do porão, em guindaste, elevado ao céu,
Sai um caixote envolvido em imaginário véu...
Véu de esperança à partida, Véu de guerra
Véu que deita alguns heróis por terra...
Traz um marido e um filhote
e o caixão, não é mais que um caixote...
Saiu entre muitos, com o seus Batalhão,
regressa mais só...que a própria solidão...
Vem ditado. Erguido aos céus não mexe mais
Cai nos braços da mulher e pais.
Alguém esperando, tem uma bandeira na mão...
Estende-a sobre o corpo dentro de um caixão...
Vem anônimo. Sem se saber o que terá sofrido
Veio, como vem qualquer soldado, desconhecido."
Esta foi a realidade, durante muitos anos, até ao 25 de Abril / 74
Morei em criança junto ao quartel dos Comandos da Amadora
e tenho memória dos pelotões que desfilavam nas ruas,
a caminho dos barcos que os levavam para a guerra,
enquanto os familiares nos passeios choravam
e acenavam com lenços brancos.
Sabiam como iam, nunca sabiam como voltavam
ou se voltavam.
Muitas famílias destruídas, muitos homens afetados,
não só os que morreram, também os que regressaram
e sofrem física ou psicologicamente os horrores da guerra.
Depois de viver uma guerra, ninguem volta a ser igual.
Pelo fim da guerra já teria valido o 25 de Abril.
Benvinda Neves
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