domingo, 28 de maio de 2023

"Capela Memorial aos Combatentes do Ultramar"...

Hoje o passeio foi por Belém e pela primeira vez

ao passar junto ao Memorial dedicado aos soldados do Ultramar, entrei na

"Capela Memorial 

aos Combatentes do Ultramar"...

Impossível não nos sensibilizarmos com a quantidade de nomes

inscritos nas paredes que rodeiam a chama permanentemente acesa.

Lá dentro, numa capela despida, um Cristo mutilado encima o altar,

uma rampa conduz-nos a um túnel que nos leva a uma pequena sala

onde uma urna é a memória de todos os que pereceram.

Uma voz lembra nome a nome todos os 

que ficaram registados como tendo regressado num caixão. 

Numa das paredes um triste e real poema que transcrevo:

"Regresso:

Está um vapor acostado ao cais

Que suporta a dor de mulher e pais!

Do porão, em guindaste, elevado ao céu,

Sai um caixote envolvido em imaginário véu...

Véu de esperança à partida, Véu de guerra

Véu que deita alguns heróis por terra...

Traz um marido e um filhote

e o caixão, não é mais que um caixote...

Saiu entre muitos, com o seus Batalhão,

regressa mais só...que a própria solidão...

Vem ditado. Erguido aos céus não mexe mais

Cai nos braços da mulher e pais.

Alguém esperando, tem uma bandeira na mão...

Estende-a sobre o corpo dentro de um caixão...

Vem anônimo. Sem se saber o que terá sofrido

Veio, como vem qualquer soldado, desconhecido."

Esta foi a realidade, durante muitos anos, até ao 25 de Abril / 74

Morei em criança junto ao quartel dos Comandos da Amadora

e tenho memória dos pelotões que desfilavam nas ruas,

a caminho dos barcos que os levavam para a guerra,

enquanto os familiares nos passeios choravam 

e acenavam com lenços brancos.

Sabiam como iam, nunca sabiam como voltavam 

ou se voltavam. 

Muitas famílias destruídas, muitos homens afetados,

não só os que morreram, também os que regressaram

e sofrem física ou psicologicamente os horrores da guerra.

Depois de viver uma guerra, ninguem volta a ser igual. 

Pelo fim da guerra já teria valido o 25 de Abril.





















Benvinda Neves

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