Moro há cerca de 40 anos na mesma casa
e quando escolhi aqui morar, abria a janela
e tinha apenas céu e pinhal para contemplar.
Era bom o cheiro da resina nos dias quentes,
maravilhosos os pôr do sol lá ao fundo,
junto ao mar do Guincho
e magníficos os silencios, apenas interrompidos
pelo chilrear dos pássaros.
Adorava sentar-me na varanda
a escrever e a ler,
ou apenas a ver o nascer e o fim do dia.
Aos poucos a paisagem foi mudando
e as casas "nascendo" após os incêndios,
mesmo com as garantias que são dadas
em entrevistas para a comunicação social,
que as áreas são para reflorestar.
Assim nasceu a rua mais recente do bairro,
após o fogo ter vindo até aos terraços dos rés do chão
e ter queimado quintas e animais no vale.
Assim se cobriu de casas o cabeço em frente,
que se viu desflorestar incêndio após incêndio.
Desta vez voltam a dizer que é para reflorestar.
Pergunto: se é para reflorestar
porque cortam também os pinheiros que
não morreram no incêndio?
Gostaria de ter chegado a tempo de ouvir
os esclarecimentos do senhor
Presidente da Câmara,
mas infelizmente os panfletos foram colocados
nas caixas de publicidade e não nas de correio
e quando cheguei já tinha acontecido.
Sinto uma tristeza tão grande,
que tenho vontade de chorar
quando olho pela janela.
É triste que se continue a permitir
que os incêndios compensem os criminosos.
Ficamos sem país
e para alguns enriquecerem,
muitos perdem a vida e os bens.
Gostaria muito de acreditar
que desta vez o crime não compensou
e que os responsáveis foram devidamente punidos.
Estou triste, muito triste.
Benvinda Neves
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