A vida dá-nos lições todos os dias
e na maioria das vezes, vêm de onde menos esperamos.
Triste é ser soberbo, achar-se superior
e não tratar todos os seres com a dignidade que merecem.
Vinha com uma amiga,
de Belém em direcção a Alcântara, junto ao Tejo,
quando passou por nós um senhor
com uma cachorrinha, super bem escovada,
transportada dentro de um carrinho de compras.
Achámos um mimo
e eu sempre espontanea como sou,
perguntei ao senhor se ela não gostava de andar,
pois tive um cachorro que tal como os garotos,
fazia birra quando saiamos
e ele entendia que não queria andar mais.
O senhor disse-me que ela gostava de andar,
mas que está praticamente cega
e como fica medrosa e desorientada
ele transporta-a assim.
Dei os parabéns ao senhor pela sua sensibilidade
e por ter a cadelinha tão bem cuidada.
Ficou tão emocionado
e agradeceu, porque finalmente alguém passava por ele
e não o ridicularizava.
Conversa puxa conversa e o senhor fez o caminho connosco.
Descobri numa pessoa de aspecto humilde
uma alma cheia de beleza e sensibilidade.
Como eu, adora a natureza - a beleza da serra,
a maravilha do mar, a importância dos rios ou um céu bonito.
Gosta de fotografar, pintar e plantar flores.
O senhor António, aos 78 anos,
está desiludido com o mundo que criamos,
com a importância que damos aos bens materiais
e com a indiferença, desinteresse
e falta de respeito do ser humano.
Sabe por experiência própria
que depressa somos esquecidos,
que hoje estamos no pódio (foi atleta de competição,
com prémios de grande valor monetário),
mas amanhã somos velhos e só nós
nos lembraremos quem fomos e quem somos.
Importante mesmo é defendermos os valores
que formam a nossa consciência,
para estarmos bem connosco.
Talvez tenham sido só trinta minutos de conversa
e um abracinho no ombro, no final,
para lhe dizer que foi um prazer conversar com ele.
Vimos uns olhos marejados de lágrimas
agradecer-nos o fazermos a diferença
e dizer-nos que fica com este encontro no coração.
O que ele não sabe,
é que quem faz a diferença é ele.
Deus saberá sempre porque se cruzam os caminhos...
No meu coração ficou o prazer
de conversar com uma pessoa com uma sensibilidade enorme
que se sente grata ao mundo
e respeita e admira os outros seres.
Tão bom seria se todos nos soubéssemos respeitar
e amar aceitando as diferenças.
Não haveriam homens com olhos marejados de lágrimas
por serem ouvidos e aceites.
Benvinda Neves
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