Da revista das Aldeias de Crianças SOS
Da revista das Aldeias de Crianças SOS
Tive o prazer de ser convidada para "dar voz"
na revista das
Aldeias de Crianças SOS.
Como Filha da Associação,
partilho com carinho algumas recordações de Infância.
Dias de Festa na nossa Aldeia SOS…
Na nossa infância SOS, havia dias que eram para comemorar
”em grande”.
Fazia-se festa no dia do nosso aniversário, no dia do
aniversário da Associação, nos Santos Populares e em todas as datas
comemorativas da Igreja, dado que a nossa educação foi católica.
As melhores roupas e sapatos eram guardados para usarmos aos
domingos, altura em que íamos à missa e nos deveríamos apresentar mais
cuidados, por sermos “convidados para a casa do Senhor”.
Roupas novas – eram uma raridade e se houvesse seria
guardada para o Natal ou para a Páscoa. Um “pesadelo terrível”, pois quando
chegava a altura festiva, muitas vezes já não nos servia. Nunca esqueci o
desgosto que tive quando fui finalmente para vestir o meu primeiro vestido novo
– cor de laranja com flores minúsculas verdes, gola redonda e saia franzida,
enviado por uma tia da Venezuela. Tinha crescido um palmo, naqueles três ou
quatro meses que o vestido esperou pela Páscoa – foram lágrimas de desgosto por
uma mentalidade que nunca entendi, mas que era muito comum na época.
Os nossos
aniversários eram comemorados em família. A mãe enchia a mesa de petiscos e
convidávamos um ou outro amigo mais chegado, de entre os primos SOS, para vir à
festa a nossa casa. Era uma verdadeira alegria, recebíamos duas ou três
pequenas lembranças, como livros para colorir, lápis de cera ou lápis de cor –
e sentíamos-mos felizes porque nesse dia eramos o centro do mundo.
Só descobri que existiam dias de aniversário, quando fiz os
meus sete anos – e já residia na Aldeia SOS DE Bicesse.
O aniversário da
Associação era um dia cheio de “pompa e circunstancia”. A Aldeia enchia-se
de convidados ilustres que vinham visitar as casas e se inteiravam sobre o
funcionamento da instituição. Faziam-nos imensas perguntas e liam connosco os
nossos jornais de parede.
Tentavam-se nestas alturas angariar benfeitores, sócios e
padrinhos – essenciais para a sobrevivência da Obra.
Hoje os aniversários da Associação são muito mais informais
e bem mais calorosos.
É uma altura que reúne várias gerações no mesmo espaço
físico e se canta os parabéns à nossa casa-mãe. Muitos ex-utentes convivem
neste dia - há abraços, beijos, o saber “com estás” e muitas e muitas
gargalhadas com recordações de infância vivida em conjunto.
É um encontro a que nunca falto.
Os Santos Populares
era uma altura que todos gostávamos. A Aldeia abria as portas à comunidade. A
troco de dinheiro que revertia para a Associação, havia rifas, febras,
sardinhas, fogueiras, alcachofras e muita musica noite dentro.
Um ou dois meses antes, fazíamos serões em conjunto. Armados
de papel colorido, tesouras, cola e fios, construíamos muitos metros de
bandeirinhas, flores e festões com que enfeitávamos o recinto onde se realizava
a festa.
Adorava aqueles serões a que juntávamos anedotas risos e
cantos.
Os dias que antecediam as festas religiosas eram também de atividades
coletivas.
Antes do Natal reuníamo-nos
na biblioteca, onde fazíamos todos os cartões de Boas Festas que eram enviados
para os padrinhos e para os benfeitores SOS.
Através de vários ensaios preparávamos teatro ou cânticos que
apresentávamos depois no dia de Natal, numa festa para todos, na casa
comunitária.
No Carnaval
mascarávamo-nos, havia desfile e concurso de máscaras, que culminava em
palhaçadas, partidas e bailarico.
Na Páscoa, como o
tempo já era Primaveril, as atividades ao ar livre eram muitas.
Poucos dias antes pintávamos ovos cozidos, que eram
escondidos no jardim do pátio.
O primeiro prémio era uma tablete de chocolate (quase sempre
fora de prazo), para o ovo mais bonito. O segundo prémio era outra tablete de
chocolate, para quem descobrisse mais ovos em menos tempo. E nós eramos
renhidos competidores.
Toda a Aldeia se envolvia em atividades de perícia e
mestria. Eram preparadas corridas dentro de sacos de serapilheira, gincana em
bicicletas, corridas ao pé-coxinho, corrida com uma bola segura por duas
testas, tirar bolas com a boca de dentro de alguidares de água, etc…etc.
Tudo servia para individualmente ou em equipa competir e
divertirmo-nos.
Não deixa de ser curioso, lembrar-me das cerimónias da
semana Santa da missa de Páscoa, de todas as atividades lúdicas e não me lembrar
se havia alguma comida típica do dia.
Talvez porque o mais
importante da vida são mesmo os laços humanos e os valores que nos são
transmitidos.
Foi de certeza o conjunto de todas as vivências que nos aproximou
uns dos outros e nos faz sentir que somos Família SOS.
Há e haverá sempre razões para comemorar a Vida.
Continuo a gostar de descobrir que há sempre motivos para
Festejar.
Benvinda Neves
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