Antagonismo …
Encher a mala com
meia dúzia de tralhas e “partir”,
ainda que só por um
fim de semana, é sempre motivo de prazer.
Nunca me importo
muito com a decisão de “para onde ir”, muitas das vezes até deixo que sejam os
outros a escolher.
Gosto da
sensação que antecede o “ir”
e tenho sempre a certeza de que vou gostar.
Se pudesse,
viajaria muito mais vezes.
Quando miúda,
naquela fase em que toda a gente nos pergunta “que queres ser quando fores
grande?”, receei algumas vezes dizer “cigana”, porque o desejei tanto, por
pensar que se o fosse podia andar de terra em terra.
Fascinou-me imenso a
primeira vez que vi na rua actuarem “saltimbancos”,
fiz imensas perguntas sobre
as suas vidas nómadas.
O mundo tem sempre
tanto de novo para ver, que não corro o risco de me entediar em lugar algum. Há
todos os dias imenso para observar e descobrir.
Gosto de férias a
palmilhar ruas, ver e apreciar com tempo e estabelecer comparações com tudo o
que já conheço.
Acho fascinante
observar como Homem e natureza se parecem. É o tempo que molda o carácter dos
povos, embora a gente quase nunca pense nisso.
São selectos e
discretos os que nascem no frio do Norte e barulhentos e extrovertidos os do
Sul, bem mais quente. É que não é só a fisionomia que é moldada pelo clima, mas
também a personalidade.
Gosto também muito
da beleza de cada lugar – nuns quase nos sentimos em casa, noutros fazem-nos sentir que somos visitas.
Prefiro não ficar
muito tempo no mesmo sitio – ir andando conhecendo e aprendendo.
Mas tenho também o
lado oposto a esta paixão – adoro estar em casa.
Parece muito antagónico
– mas é assim que sou.
Por muito que goste de viajar e por muito bem que me
sinta em cada lugar, ao fim de duas semanas começo a sentir uma saudade imensa
e uma vontade louca de voltar.
Quase toda a gente
estranha este meu lado – mas apesar de modesta, a minha casa é o lugar
onde me sinto melhor.
Sou feita destes
dois extremos “casa / solidão - viagens / mundo”.
Casa / Solidão – é o
conforto de me conhecer, aceitar quem sou e necessitar tantas vezes de estar
só.
O Mundo e as
viagens – tudo o que não encontro dentro de mim e que procurarei enquanto
viver.
Estou de partida
para mais uma procura…
Benvinda Neves
Abril 2014
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