sábado, 8 de agosto de 2020

O Samouco pareceu-me um lugar esquecido...

 Escrevi há uns tempos aqui,
que às vezes visitamos lugares, que parecem noutro país,
embora fiquem perto da nossa capital.
Hoje queríamos passear na outra margem
(dizemos assim, quando atravessamos o rio Tejo),
em algum lugar que não conhecêssemos.
Deixamos o carro e apanhamos o primeiro barco que apareceu
que ia precisamente para o Montijo.
Só tinha ido uma vez ao Samouco, de carro, 
com paragem directa junto à praia,  às salinas
e ao cais palafitico - que me deixou uma ideia 
romantizada do lugar.
Hoje vim com a noção de uma realidade
completamente diferente da de "turista",
pois usei os transportes que usam os residentes
e percorri quilómetros de ruas em terra batida,
cheias de pó e muito lixo ao longo de todo o percurso.
A estação Fluvial - fica longe de tudo,
os barcos entre Lisboa e o Montijo são de duas em duas horas
e os autocarros para as povoações também.
Na estação fluvial não existia qualquer estabelecimento aberto,
para se poder comprar uma água ou um café,
tão pouco uma máquina automática que tivesse esse fim.
Como o autocarro tinha acabado de sair
resolvemos ir a pé até à localidade mais próxima
e essa foi a razão da visita ao Samouco e não ao Montijo.
Cerca de trinta e cinco minutos sobre um sol abrasador,
cheios de poeira e areia do caminho em terra batida,
que fica irrespirável quando nos cruzamos com automóveis,
que nos envolvem numa nuvem sufocante,
chegamos à praia fluvial do Samouco.
Centenas de mariscadores de várias nacionalidades
entram rio adentro, a maioria sem fatos apropriados
e ficam curvados horas após horas recolhendo os bivalves
entre o lodo, a lama e os bancos de areia.
Todas as pessoas tinham um ar de gente pobre,
que luta para se manter vivo.
O cais palafitico está em muito mau estado
e parece um deposito de lixo.
O Samouco pareceu-me um lugar esquecido...
onde a pobreza se instalou a todos os níveis.
Qual o papel da Câmara Municipal de Alcochete
e da Junta de Freguesia do Samouco?
Vim triste com a realidade que presenciei,
pois todos temos direito à dignidade 
e a viver em lugares limpos 
e com condições de habitação e transportes.
Tenho a certeza que este ano foi de mudanças profundas
para todas as pessoas,
mais ainda para as famílias que viviam já em condições precárias.
Avizinham-se tempos muito difíceis.






Benvinda Neves

de 2014:


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