segunda-feira, 30 de junho de 2014
domingo, 29 de junho de 2014
sexta-feira, 27 de junho de 2014
Não há pobreza que aprisione mais que a falta de amor-próprio...
(com os meninos guias da Rocinha)
que a falta de amor-próprio...
Um corpo com apresentação desleixada é como uma casa suja e desarrumada.
Sempre me fez confusão pessoas que saem de casa sem a mínima preocupação com a higiene pessoal e com a aparência - mas sobretudo com o asseio do corpo e da roupa que vestem.
Ontem encontrei uma vizinha que não via há alguns meses e apesar da alegria que tive em abraça-la, não pude deixar de reparar no ar tão desmazelado que trazia.
Andar na rua com o cabelo despenteado a pingar óleo, as roupas cheias de nódoas e amarrotadas e uns chinelos que deveriam estar no lixo há muito tempo - deixou-me a pensar que há pessoas que não têm auto-estima nenhuma. É uma mulher muito bonita, a quem bastaria um ar "lavadinho" para cativar olhares de apreciação.
Muitas vezes há tendência para confundir pobreza com limpeza - quando não estão associadas, a não ser pela preguiça e desleixo.
Foi mais uma das boas coisas que me foram ensinadas na minha "educação SOS"- "pode ser-se pobre e limpo e rico e sujo - porque não é o estrato social que determina o cuidado que devemos ter com o nosso corpo ou com o lugar que habitamos.
Quando éramos garotos e vivíamos na Aldeia SOS, fazíamos visitas esporádicas ao bairro de barracas situado lá perto, chamado "Fim do Mundo".
O objectivo era ajudar partilhando o que nos era dado e ao mesmo tempo educar-nos para termos noção que a vida pode não dar as mesmas oportunidades a todos, mas que quando nos é dada a oportunidade devemos ser gratos e não esquecer quem vive pior que nós.
Essas visitas incluíam sermos recebidos nas várias habitações e podermos observar as condições em que viviam as diferentes famílias. Não nos era permitido fazer comentários no local, mas quando regressávamos a casa havia dialogo com lições e conclusões a tirar.
Aconteceu num dos dias entrarmos numa casa impecavelmente limpa e noutra que era uma completa lixeira. Aprendemos assim que se pode viver lado a lado, partilhar a mesma condição social e escolher ter ou não dignidade.
Numa visita ao Rio de Janeiro (cidade linda cuja natureza foi abençoada pela beleza Divina),vi ruas cheias de meninos pedintes, que não conhecem lar e surpreendeu-me a quantidade de paisagem ocupada pelas favelas - não tinha consciência que fosse uma extensão tão grande.
Surgiu a oportunidade de visitar a Rocinha (na altura a maior favela da América do Sul) e foi "uma viagem ao passado" e às lições que me ficaram para a vida.
Fui invadida por todos os sentimentos que me formam como ser humano - dor, alegria, admiração, revolta...um misto que nos nasce na alma, quando conversamos com meninos que são mais "adultos que nós". Que nos dizem nos olhos que sabem que as nossas lágrimas e lamentos são o "momento presente", porque no dia seguinte a vida deles em nada mudou - apenas o dinheiro que damos para a visita contribui para que alguns tenham melhores estudos.
Todas as casas que visitei na Rocinha eram limpas e cuidadas - e mesmo as que só era possível ver o interior com a luz acesa, por não terem janelas, ainda assim tentavam ter o aspecto de "lar".
Qualquer daqueles meninos tinha a aparência cuidada e um sorriso aparentemente igual ao de todas as crianças - diferenciava-os o falar.
Gravei na memória o orgulho, do tamanho de uma fortaleza, com que conversavam sobre o final do liceu ou da universidade que uma frequentava. Com o mesmo orgulho falou ela do pai, que dizia nunca ter saído da favela e ter escolhido ser advogado dos pobres.
Importa nunca esquecermos de onde viemos, para saber quem somos, mas não há pobreza que aprisione mais que a falta de amor-próprio.
A nossa aparência revela quem somos e o que sentimos.
Há pessoas que ficam presas nas lamurias do passado e arrastam a vida inteira uma pobreza que ficou lá dentro e que necessitam mostrar através do seu aspecto.
Quem perde o amor-próprio, perde o orgulho e a dignidade - nunca será grato à vida, porque nem repara que esta lhe dá oportunidades todos os dias.
(Rocinha)
Benvinda Neves
Junho 2014
quinta-feira, 26 de junho de 2014
Há lugares - como santuários da natureza…
Há lugares que a certas horas do dia,
São como santuários da natureza…
Hoje
não saí do carro para uma voltinha matinal,
Fui
um pouco mais tarde,
E
porque sou feita de rotinas,
Embora
possa entrar todos os dias até às 10h,
Quando
entro depois das 8h, acho sempre que estou atrasada.
Mas
tive que parar uns minutos junto a Santo Amaro,
Onde
se avista toda a baía de Oeiras.
Há lugares que a certas horas do dia,
São como santuários da natureza,
Pela beleza com que nos deslumbram
E arrancam ao torpor matinal.
São lindos,
Nessas horas em que a terra ainda não
endoideceu
Com o barulho dos carros e a agitação
frenética do Homem.
Não
sei descrever o que sinto,
Quando
uma paisagem me rouba o pensamento,
Me quebra
a indiferença
E me
obriga a admira-la.
Mas
sei que me dá paz,
Um
amor imenso à vida
E uma
paixão grande,
Hoje,
amanhã…depois…
Porque
encontra todos os dias
Formas
diferentes de me surpreender.
Benvinda Neves
Junho 2014
Ontem, Hoje, Amanhã…Depois…
Diferentes em cada dia,
mas sempre Belíssimos Amanhecer...
Benvinda Neves
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